A
prática pedagógica da professora confirma a maioria das concepções identificadas
na entrevista, caracterizando-se pelos seguintes aspectos, dentre outros:
a) atendimento individual e atividades diferenciadas aos alunos que apresentam dificuldade
e ritmo mais lento;
b) avaliação concernente ao nível de aprendizagem do aluno;
c) conciliação de propostas curriculares atuais com propostas curriculares mais tradicionais
no desenvolvimento de sua prática pedagógica;
Entrevistador: O entendimento do professor sobre a aprendizagem
interfere no seu modo de avaliar?
Professora: Eu avalio o aprender. Então, a resposta mais
complexa que eu tenho que responder é o que é aprender. A avaliação tradicional
se centrou basicamente no "aprender que". Por exemplo, eu aprendo que
as palavras oxítonas terminadas em "a", "e" e "o"
são acentuadas, e muitas professores ainda estão centrados nesses "quês".
A aprendizagem é muito mais ampla do que o "aprender que". O aprender
envolve o desenvolvimento, o interesse e a curiosidade do aluno, a sua autoria
como pesquisador, como escritor, como leitor. Envolve o seu desenvolvimento
pleno. É preciso perceber a aprendizagem nessas múltiplas dimensões. Não posso
somar essas múltiplas dimensões - atribuir pontos por participação, por
tarefas, pelo interesse do aluno. Não há como somá-las. A análise
da
aprendizagem é uma análise de conjunto de saberes e de fazeres. Esse aprender é
um aprender muito mais amplo do que muitos professores hoje concebem.
Entrevistador: De acordo com sua experiência, poderia citar três
dos principais motivos responsáveis pela resistência dos professores em relação
às mudanças nas formas de avaliação?
Professora: Um desses motivos é a questão da formação dos
professores. Na verdade, os cursos de licenciatura não formam professores para
o exercício cotidiano docente, que os obriga a lidar com muitos alunos e suas diferenças.
Também, o professor nem sempre é bem preparado para o exercício do magistério
da sua disciplina. Mesmo conhecendo bem a sua matéria, não consegue ensinar e
nem acompanhar o processo de aprendizagem.
Outra
reclamação frequente dos professores é em relação ao acompanhamento individual
de muitos alunos. De fato, nós temos nas escolas, e isso é um problema muito
sério, cada vez um maior número de alunos, e muitos desatendidos socialmente. E
o professor acaba assumindo muitas funções. Hoje, não se pode dizer que se é
apenas um professor, mas sim um educador, num sentido muito mais amplo, onde é
preciso também lidar com as questões afetivas. Ao mesmo tempo, a questão que se
faz é que toda avaliação é individual não existe uma avaliação de grupo.
Mesmo
se avaliando coletivamente, os reflexos dessa prática irão recair sobre cada um
dos alunos. Essa é uma grande preocupação. As escolas que desenvolvem experiências
de avaliação mediadora significativas são as que diminuíram o número de alunos
em sala de aula e ofereceram um espaço de estudo para os professores. Não acompanhei
nenhuma escola que pudesse, de fato, evoluir nessa questão, sem que abrisse aos
professores momentos e espaços de estudo, salas de leitura, bibliotecas, leituras
compartilhadas, para estimular a reconstrução do conhecimento pedagógico a partir
da própria realidade escolar. Um dos grandes compromissos que vejo para este milênio
é a formação continuada dos professores nas escolas. A dinâmica da vida social
nos traz, diariamente, muitas questões para resolver com esses jovens que ingressam
na escola. Toda essa crise social que vive nosso país exige que, a cada dia, repensemos
os nossos princípios e, principalmente, trabalhemos em conjunto. O professor
vai se sentir muito mais amparado se tiver um espaço para discutir com seu colega
e colocarem na mesa todas as suas questões, para serem pensadas em conjunto.
Vários
olhares avaliativos compõem essa multidimensionalidade da avaliação.
(Entrevista feita entre os dias 12 e 13 de novembro de 2014).
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